Como prevenir doenças crónicas como o cancro

Saúde

PROJETO_SAFIRA_FINAL“O cancro é uma doença que depende quase inteiramente de nós para se manifestar” – Gabriel Mateus

Após Safira ter sido diagnosticada com um tumor maligno no rim com apenas 4 anos, o pai Gabriel Mateus embarcou numa jornada rumo a uma cura holística e não convencional para a sua filha. Optando por não aceitar os tratamentos de quimioterapia na fase adjuvante, que poderiam trazer efeitos secundários crónicos a Safira, Gabriel decidiu procurar um outro caminho. Esta procura levou-o a estudar intensivamente os fenómenos subjacentes ao cancro, e outras doenças crónicas, e a fundar uma associação sem fins lucrativos, “Projeto Safira“, que visa educar as pessoas sobre esta doença e, principalmente, sobre como preveni-la.

O conhecimento que Gabirel possui é vasto e os cursos que ele oferece podem, sem qualquer dúvida, ajudar-te a ti e a todas as pessoas a ganharem um maior conhecimento sobre a relação entre a alimentação e a saúde/doença. O próximo curso que o Gabriel irá presentear chama-se “Faça da sua cozinha uma farmácia – o papel da alimentação na prevenção do cancro” e, apesar de se encontrar direcionado para esta temática, é uma excelente oportunidade para aprenderes a cuidar de ti e da tua alimentação. O curso tem início já no próximo dia 25 de Setembro e será realizado em Lisboa e também livestream para qualquer parte do mundo. Apenas duas palavras: inscreve-te já! (Encontras mais informação sobre este curso no final do artigo)

Nesta entrevista, Gabriel conta-nos um pouco sobre a história que levou à cura da sua filha Safira, através de uma abordagem holística e integral, e ao apelo que sentiu em contribuir para a consciencialização do impacto que a alimentação e estilo de vida têm na saúde e, também, no aparecimento de doenças crónicas, como o cancro.

1. QUAL A PRINCIPAL RAZÃO QUE TE LEVOU A ESCOLHER UM TRATAMENTO ALTERNATIVO/NATURAL PARA A DOENÇA CANCERÍGENA QUE EXISTIA NO CORPO DA TUA FILHA?
A minha filha foi diagnosticada com um tumor maligno do rim (tumor de Wilms) em 2010. Nessa altura iniciou tratamentos que consistiram em quimioterapia pré-operatória, seguida de cirurgia na qual lhe foi removido o rim direito, juntamente com o tumor. Após análise histológica, o tumor foi classificado como sendo de alto risco, o que, de acordo com o protocolo seguido para estas situações, exigiria uma quimioterapia mais agressiva nessa fase adjuvante, como forma de prevenção de eventuais recidivas. Foi nesse momento, perante as incertezas que existiam em relação à eficácia e necessidade do tratamento proposto, além da possibilidade de sequelas físicas resultantes do mesmo, nomeadamente cardíacas, neurológicas e tumores secundários, achámos por bem procurar outras formas de tratamento que obtivessem o mesmo resultado mas sem os efeitos secundários indesejados. Afinal, o que nos move é garantir uma vida longa, com a melhor qualidade de vida possível para a nossa filha, e não uma sobrevivência a 5 anos, seguidos de uma vida com grande probabilidade de problemas crónicos, resultantes do tratamento. Os problemas que se seguiram após esta nossa decisão são conhecidos, e acrescentaram ao problema de saúde já por si duro, um outro de natureza social, quando nos quiseram por todos os meios impedir de exercer a nossa função de pais e de escolha de tratamento. Desde então que tenho dedicado todo o meu tempo a perceber o que podemos fazer quando estamos doentes com cancro, e ainda mais importante o que podemos fazer para evitar ter a doença. De forma a conseguirmos combater este flagelo, não será possível sem um esforço integrado entre todas as partes envolvidas. A solução não é privilégio de uma só parte, mas poderá surgir se trabalharmos em conjunto, recorrendo aquilo que podemos hoje chamar de Medicina Integrativa. Esta medicina coloca o indivíduo no centro em todas as suas dimensões (física, emocional, mental) e utiliza todos os meios válidos para contribuir para a sua recuperação. Neste modelo, o doente é um agente ativo e participante no seu próprio processo de cura. Deixou de funcionar de forma passiva e assume a sua responsabilidade no tratamento. Foi isso que enquanto pais exigimos e que considerámos ser no superior interesse da nossa filha. Na altura, depois de muita pesquisa, chegámos ao conhecimento da imunoterapia, em particular o tratamento com as células dendríticas. No caso específico da Safira, numa altura em que não existiam sinais visíveis da doença, a vacina pareceu ser adequada para prevenir recidivas, embora claro que não poderemos nunca saber se foi este tratamento que permitiu até hoje a Safira manter-se sem sinais da doença. O mesmo já não é possível garantir quando se recorre a este tratamento numa fase avançada da doença. A alimentação é também uma base importante em todas as etapas da saúde: na prevenção, no tratamento e na manutenção. Nesse sentido, procurámos conhecer a fundo tudo o que hoje se sabe sobre o papel da alimentação na prevenção do cancro e aplicar esse conhecimento ao estilo de vida da Safira. Como resultado da nossa experiência sentimos o dever de contribuir para a sociedade partilhando e encontrando formas de divulgar um conhecimento que considero fundamental para combater problemas graves de saúde pública, tais como o cancro, as doenças cardiovasculares, a obesidade e as diabetes. Para isso criámos uma Associação sem fins lucrativos que procura dar apoio a quem tem a doença e contribuir para a sua prevenção. O que nos inspira e move nestes projetos sociais, é a história da Safira que até hoje mantém-se saudável e feliz.

2. SENTES QUE A ALIMENTAÇÃO INFLUENCIOU A CURA DESSA DOENÇA?

A alimentação e o estilo de vida têm um papel fundamental na saúde e na doença. As escolhas alimentares que fazemos todos os dias têm um impacto determinante para a nossa vida. Hoje sabemos que apenas 5 a 10% de todos os cancros dependem de fatores genéticos hereditários. Os restantes 90 a 95% dependem de fatores ambientais que podemos modificar. De acordo com as evidências disponíveis atualmente, 30 a 40% de todos os cancros dependem da nossa alimentação e dos nossos hábitos de exercício físico. O que isto significa é que ao contrário do que muitos de nós julga, o cancro é uma doença que depende quase inteiramente de nós para se manifestar. Se é verdade então que somos o centro do problema, também é verdade que a solução depende de nós. Os alimentos interferem com todos os mecanismos biológicos do cancro. Alguns desses alimentos promovem o crescimento dos tumores criando condições favoráveis ao seu desenvolvimento. Outros têm uma ação contrária, impedindo ou dificultando o seu crescimento. Conhecê-los permite assim reunirmos um exército de substâncias que jogam a nosso favor e contribuem assim para a nossa recuperação ou para evitar a doença, enquanto excluímos aqueles que acabam por se tornar aliados dessas células que manifestam um comportamento de crescimento descontrolado. Inúmeros estudos hoje comprovam a importância que tem o estilo de vida não só na prevenção como na sobrevivência após um diagnóstico. Parece ser uma atitude responsável e de acordo com as recomendações que temos, fazer alterações significativas na nossa alimentação quando estamos doentes. Assim o fizemos com a Safira e penso que isso será de uma grande importância para a sua recuperação e vida futura.

3. QUAIS AS PINCIPAIS DIFERENÇAS QUE NOTASTE NA SAFIRA QUANDO A ALIMENTAÇÃO DELA MUDOU?

A Safira é uma criança muito saudável e com muita energia. Antes de toda esta situação manifestava um cansaço recorrente que desapareceu. Não posso saber se esse cansaço se devia apenas à doença, no entanto hoje a saúde que a Safira mostra terá com certeza algo a dever ao estilo de vida que tem. Em termos psicológicos e do seu desenvolvimento pessoal tem também implicações. O facto de ela participar conscientemente no processo de fazer escolhas saudáveis, dá-lhe uma visão mais responsável e autónoma que será uma mais valia para o seu futuro. Todo este conhecimento é vivido com muita naturalidade e entusiasmo pela Safira.

4. O QUE TE LEVOU A FUNDAR O “PROJETO SAFIRA”?

O Projeto Safira é uma consequência natural de uma experiência pessoal. Qualquer experiência dolorosa mas transformadora tem o potencial de se manifestar como uma maior sensibilidade humana e consciência social. Nesse sentido, o que vivemos transbordou para fora da nossa esfera pessoal e seria impensável que a guardássemos só para nós sem partilhar os frutos dessa experiência. Lidar com a doença da Safira, perceber as lacunas existentes na forma como estamos informados acerca do podemos fazer perante uma situação destas, teve como imperativo ético assumirmos para nós essa ação cívica. O nosso objetivo será contribuirmos para uma sociedade mais informada e justa, uma cidadania mais participativa, e um indivíduo mais preparado para combater ou evitar a doença. Para tal, promovemos várias ações de esclarecimento e divulgação em áreas que achamos não haver iniciativas suficientemente eficazes, nomeadamente na área da prevenção do cancro.

5. TU COMEÇASTE A ESTUDAR INTENSIVAMENTE A RELAÇÃO ENTRE ALIMENTAÇÃO VS. SAÚDE/DOENÇA. DE ACORDO COM O TEU PONTO DE VISTA, DE QUE MANEIRA É QUE OS ALIMENTOS AFETAM O ESTADO E QUALIDADE DAS CÉLULAS CORPORAIS?

A alimentação é a base de toda a nossa vida orgânica. Através dos alimentos que ingerimos obtemos todos os nutrientes que necessitamos para as várias funções plásticas, energéticas ou reguladoras. Além desses nutrientes (proteínas, gorduras, hidratos de carbono, vitaminas e minerais) existem também outras substâncias produzidas principalmente pelas plantas (fitoquímicos), que não tendo valor calórico, têm uma função reguladora, interferindo com vários mecanismos biológicos, dos quais dependem as células de cancro para sobreviverem. Algumas dessas substâncias têm uma ação antioxidante, evitando assim que moléculas altamente reativas conhecidas por radicais livres possam causar dano nas células, o que contribuiria para o seu envelhecimento precoce ou para mutações nos genes do seu ADN, o que pode levar ao cancro. Mas as suas ações não se esgotam aí; têm também muitas outras propriedades com implicações no desenvolvimento da doença, tais como: ação anti-inflamatória, ação antiangiogénica, modulação imunológica, regulação hormonal, ação epigenética, indução da apoptose, regulação do ciclo celular, reparação do ADN, estímulo da ação de enzimas desintoxicantes, ente outros. Na realidade, toda a vida orgânica se processa ao nível das células. Estas são as unidades fundamentais de todos os nossos tecidos corporais e por isso devemos fornecer-lhes tudo aquilo que necessitam para a sua correta função, e evitar os produtos que criam condições para futuros problemas. Infelizmente a nossa dieta ocidental comum, reúne a cada refeição quase todos os fatores de risco conhecidos para o cancro, mas também para as doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes e exclui os alimentos com propriedades protetoras e nutritivas. A nossa dieta ocidental oferece o terreno perfeito para as células adoecerem e poderem desenvolver-se depois de adquirirem um comportamento descontrolado. Cabe-nos a nós tratarmos do jardim das células saudáveis com bons alimentos e impedir que as ervas daninhas proliferem.

6. QUAIS OS PRINCIPAIS FATORES DESENCADEANTES DE DOENÇAS CRÓNICAS, COMO O CASO DO CANCRO?

O cancro é uma doença muito complexa. Na realidade trata-se de um conjunto de doenças caracterizadas pelo crescimento descontrolado das células. Estas células tem um código de funcionamento estrito que se encontra nos 25000 genes do ADN. Cada um desses genes representa uma instrução que deverá ser rigorosamente respeitada pela célula no exercício das suas funções. No momento em que um desses genes, por ação de substâncias que possam induzir esse acontecimento, passa por uma mutação, temos aí o início de um processo que pode degenerar em cancro. O nosso organismo tem muitos mecanismos eficazes para evitar essa situação e mantê-la sob controlo. A eficácia desses mecanismos depende em grande medida da alimentação e do estilo de vida. Essas células são como pequenas sementes portadoras de uma alteração pré-cancerosa que dependem do terreno em volta para se poderem desenvolver e ser clinicamente observáveis como um tumor. Esse processo chama-se carcinogénese e pode levar de 1 a 40 anos até se manifestar e poder ser detetado como cancro. Durante todo esse período tudo o que fazemos e que modifica esse ambiente pode criar condições para o cancro se desenvolver ou inibir esses microtumores e mantê-los latentes sem nunca se manifestarem. Alguns desses fatores favoráveis ao seu crescimento são: os níveis de inflamação crónica, os níveis elevados de açúcar e insulina no sangue, os níveis da hormona de crescimento IGF-1 e os níveis de estrogénio. A alimentação e o exercício físico (assim como o estresse emocional) são determinantes para a regulação destes fatores. A obesidade está associada a um aumento de todos estes fatores também. Quando ingerimos alimentos que contribuem para uma diminuição destes elementos, os quais são principalmente de natureza vegetal, e excluímos ou moderamos aqueles que os aumentam (excesso de proteína animal, açúcares, gorduras saturadas, farinhas e cereais refinados), criamos condições favoráveis ao aparecimento das principais doenças crónicas. Precisamos de criar um novo padrão alimentar, alinhado com as mais recentes recomendações, que seja de base vegetal, rico em gorduras saudáveis e hidratos de carbono complexos, que possa contribuir para pessoas mais saudáveis e por isso mais felizes.

7. NA TUA OPINIÃO, É POSSÍVEL HABITAR UM CORPO SAUDÁVEL, CHEIO DE ENERGIA E LIVRE DE QUALQUER DOENÇA?

Penso que será exagerado achar que é possível em absoluto ficarmos inteiramente livres de doença, mas poderemos com certeza aumentar muito a possibilidade disso acontecer. Sabemos que as populações com maior longevidade conhecidas têm estilo de vida que assentam numa alimentação de base vegetal, com pouca ou nenhuma proteína animal, mas também com um exercício físico regular e redes de apoio social muito consolidadas. Nesse sentido é preciso lembrar que somos um complexo de várias dimensões: física, emocional e mental, daí que se não conseguirmos um equilíbrio entre todas estas partes, dificilmente estaremos imunes à doença. Existem muitos fatores que porventura desconhecemos e que contribuem para a saúde e a doença, mas a alimentação, inserida num conceito mais abrangente de estilo de vida tem uma importância fundamental para o bem-estar. Quando fazemos escolhas mais conscientes a nível alimentar, isso tem também implicações emocionais e vice-versa. Temos de nos ver de forma inteira. Como tal, talvez seja recomendável assumirmos um estilo de vida integral, nos vários sentidos da palavra: respeitando a totalidade das várias dimensões humanas e procurando uma dieta de base vegetal, minimamente processada, rica em nutrientes e pobre em calorias.

8. TRÊS PASSOS QUE AS PESSOAS POSSAM COMEÇAR A APLICAR HOJE EM DIREÇÃO A ESSE ESTADO DE SAÚDE E ENERGIA.

1.      Assumir a responsabilidade pessoal pela sua saúde;
2.      Aceitar com entusiasmo os desafios da mudança;
3.      Inspirar os outros pelo exemplo.

9. NO PRÓXIMO DIA 25 DE SETEMBRO INICIAS, EM LISBOA E TAMBÉM ONLINE, UM NOVO CURSO TEORICO-PRÁTICO CUJO TEMA É “FAZER DA COZINHA UMA FARMÁCIA – O PAPEL DA ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO DO CANCRO”. O QUE É QUE AS PESSOAS IRÃO APRENDER COM ESTE CURSO?

O curso que estamos a dar pretende empoderar-nos com um conhecimento prático e bem fundamentado acerca do papel da alimentação na prevenção do cancro. Tentamos identificar e conhecer o problema, e adquirir as ferramentas que dispomos para podermos lidar com esse desafio. Embora tenha como ponto de partida a prevenção do cancro, as suas aplicações estendem-se até outras condições, como as doenças cardiovasculares ou diabetes, uma vez que os fatores de risco para todas estas doenças crónicas são muito semelhantes entre si. Como não poderia deixar de ser, o curso tem uma vertente muito prática, sendo que metade das aulas são dedicadas à confeção de refeições de acordo com as linhas orientadoras das aulas teóricas. Os alimentos assumem uma dimensão funcional e passam a ser vistos como autênticos “medicamentos”, daí o nome “Fazer da Cozinha uma Farmácia”, sem no entanto sacrificar o prazer de comer refeições saborosas. No final, pretende-se que perante a pergunta “o que posso fazer para evitar ter cancro?”, sejamos capazes de responder com conhecimento e com competência: “muita coisa!”; e que uma dessas coisas passa pela alimentação.

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Aqui está um vídeo de uma participação do Gabriel num programa da TVI, em que resume alguns dos conhecimentos que serão abordados no curso.

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Francisca Guimarães - Homeopatia

Francisca Guimarães

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